domingo, 23 de maio de 2010

ARVORE GENNI-HÁ-LÓGICA

Todos os “Esvael” descendem de um mesmo casal, João Lucas Esvael, de cujo pai falarei aqui e da minha sensacional vó Ester Esvael, esta que carregava em si o sangue, filha que era de Joaquim Francisco de Assis Brasil, a herança que meu avô aparentemente não aceitou por seu orgulho, fez falta a todos nós em algum momento da vida, e a eles filhos sempre. Deles saiu meu pai João Acácio Esvael, e meus dois irmãos, Maria Ester e Marco Antônio. Paulo Esvael, casado com a Lourdes e seus três filhos a Ana Maria, João Francisco e Paulo Roberto. Lucas Esvael, o Luquinhas, casado com a tia Eli, cujo filho é um músico conhecido no Sul, e o José, casado com a Vilma. Deles Lucas e Ester, avô que vi poucas vezes e agora quando escrevo posso percebe-lo, seja psiquismo ou imaginação, a meu lado enlaçando-me em ternura e afeto, deixando-me comovido, outra vez que o percebi foi quando do falecimento do Luquinhas e meu pai sofreu muito, eu entendia um pouco melhor a morte e não entendia porque eles, irmãos, não se correspondiam nem se viam. Meu pai era tímido e constrangido com não sei o quê dele mesmo ou da pobreza com que nos criou, prefiro pensar que era simplicidade e foi assim que sempre o vi, poderia ter sido o que quisesse, nunca quis viver mais do que o momento de si mesmo, não havia em seu pensamento a continuidade, que cada um se fizesse por si e pronto. Minha vó andava com ele visitando as filhas no centro do País, de pele amorenada, baixinha, sempre a vi com um coque e um corte que era uma saia, quase sempre preta e uma blusa, quase sempre xadrez, ou contrastando com a saia, à moda francesa. Era muito elegante, sempre tesa e preocupada com as filhas, a vi psiquicamente muitas vezes, e tenho saudades dela sempre, sei que nos amava muito e de alguma forma está aqui a meu lado. Pode já ter nascido, construído outro corpo, mas o espírito daquela vida continua igual, isso eu explico para vocês que não conhecem isso nos meus livros sobre o assunto. Aliás, foram as visões deles minhas primeiras aulas sobre a existência, lágrimas de pura ternura e afeto correm de meus olhos agora, sinto-os a meu lado, lá fora a madrugada termina. Gostariam que a conhecessem todos os seus descendentes. Vou tentar pintá-la um dia desses e solicitar cópias de fotos deles aos que residem em Bagé ou do centro do País, amaria tê-las. Os dois eram de personalidades fortes, as filhas: Clementina, que não teve filhos e era alta e de porte, casada com um Libindo que era professor de braille, entrado em anos, homem de formalismos e etiqueta, que foram para o Rio de Janeiro. A vi uma vez numa visita que nos fez em Porto Alegre onde sempre moramos. Outra filha Francisca, a Chica, cujos filhos, Rute, Vera, Madga (Guida), Leandro Acácio, José Américo e falta alguém... possuem os pendores para o canto e a música dos ancestrais, conservam as habilidades musicais, poéticas e literárias da família, juntamente com a turma da Eunice, João Lucas, Orozimbo. Flor e Eliana, minha irmã pode conhecê-los, mas primos a gente conhece de infância, de folguedos, de conluios, de segredos, de aspirações... Nunca esqueci o jeito de andar do José, com uma boina malandramente colocada na cabeça e que era sensacional, em muitos aspectos.


Era um menino quando visitamos em Bagé, e gostava de desenhar e pintar o que fazia nas sobras de cadernos e algumas folhas, adolescente gastava toda a mesada e o que conseguia com “bicos” comprando livros continuo até hoje papel e tinta. Naquele época foi o começo. O José pegou um banquinho para si e outro para mim, num terceiro colocou uma xícara com água e abrindo os tubos de têmpera, usando sobreposição de cores, numa velocidade incrível pintou a cena da rua e mudou minha vida para sempre e conquistou um respeito e um amor imenso de minha parte e nunca vou entender porque morreu funcionário da Prefeitura de Bagé ao invés de morrer de esquecimernto nas galerias de arte e nas telas que eram seu destino.

O outro cara fantástico destes tios era o Luquinhas, era o melhor desenhista que conheci, se continuasse e se dedicasse à arte do desenho, era dele, e havia nascido com ele, não chegou lá, ficou num escritório de contabilidade porque arte não dava dinheiro pensavam por ele, mas teria vencido no Rio de Janeiro que era para onde deveria ter ido e carregado a Eli a quem amava e o Luquinhas, que seria maior lá do que é aqui, onde ele é bom, mas sabem como é a terra e a dificuldade de um artista daqui vencer no País. O Paulo era de móveis, de madeira, da tornearia, da habilidade com as mãos, o único que ficou marcado pela Grande Guerra, um filho dele teve problemas graves de saúde e era quem herdara a pintura de maneira plena, quando o conheci já estava vitimado e comprometido em sua condição mental, doente pintou até o fim da vida, sem ter condições de avançar além da forma... Todos os netos de alguma forma e seus filhos possuirão habilidades com as artes herdadas seguramente da gênese do velho Acácio Esvael, que também era músico e pais do João Lucas Esvael meu avô e de parte de minha vó, as letras, características dos Assis Brasil.

Orgulho de todos eles, somos todos, a seu jeito nos fizeram. Meu avô era orgulhoso de si e protestante sempre, com uma visão tradicional do mundo, lia muito, mas sem a profundidade que deveria, mas seria quase impossível em Bagé, poderia, meu pai lia também, a mesma literatura e o entendimento do que era letramento para a cultura portuguesa, de Eça de Quiroz, Camilo Castelo Branco e outros de um latinismo romântico, de uma visão de mundo pertencente àquilo que se removeu com os acontecimentos do eixo cultural formado por Paris, Moscou e Berlin após a segunda metade do Séc. XIX. Vejam os autores e os acontecimentos nesses três focos culturais e entenderão o que estou relatando. Meu avô pensava dentro da visão de mundo marcada pelos valores tanto lusitanos, sem o perceber, da moral judaico-cristâ e do protestantismo, embora fosse visivelmente um mulato, letrado a seu modo, era um empreendedor, mas não conseguiu levar adiante sua família, perdendo seus negócios nas guerras internas do Rio Grande do Sul e nas crises econômicas, mas continuou um lutador e um empreendedor, foi o tempo e as situações históricas que o fragilizaram. Discutia com meu pai sempre sobre tudo, sua visão política e sobre religião, e nas duas exacerbavam a ponto de saltarem as “veias” e ruborizarem. Beiravam o descontrole e sempre era assim que terminavam as conversas poucas que tiveram. Lembro de assisti-las no colo de ambos, maior tentava falar com eles e nunca permitiram, surpreendentemente os entendia já na época. Meu pai escutava no rádio as palestras de um jovem prodígio Moacir Costa deAraúlo Lima, que depois foi para a psicologia, jovem médium que falava sobre espiritualidade. Porto Alegre era um dos locais onde a religião explodia em diversas correntes, notadamente o kardecismo e o Umbanda, com Leopoldo Bertiol e outros, homens firmes e defensores de posições e reformas. Vencedores em suas profissões e tendo aderido à causa espírita promoviam a expansão e a discussão entre os diferentes ramos com respostas dos protestantes e dos católicos. Diriam que todos os grupos avançaram e se fortaleceram na cidade e no interior a expansão mais lenta ocorreu igualmente por vias e processos diferentes da capital. Meu avô continuou protestante e meu pai até o fim da vida não conseguia entender o que acontecia com ele e buscava na Bíblia que sempre lia explicações para o fenômeno da mediunidade que lhe aconteceu, com o espiritismo que a maioria dos seus amigos pratica e que acabou por envolvê-lo. As discussões de ambos eram sobre religião e sobre a situação econômica e política, que ambos conheciam pouco, poderiam ter sido o que não foram na vida, pai e filho traçando destinos e trocando companhia e afeto, sabedoria e amizade. Eram duros a seu modo, haviam ficado assim. Nunca recebi de meu pai um abraço e um beijo, fui eu quem o fez e quando o fiz voltou-se de costas para ocultar as lágrimas que desciam de seu rosto. Teria sido assim sua infância?

Meus avós viajavam sempre e foi numa dessas viagens que contraíram, num trem em São Paulo o pênfigo, Fogo Selvagem, terrível doença que afetava o centro do País e os levou à morte, os dois, por conta dos sofrimentos e dos medicamentos, idosos que eram. Perdemos todos.

Um comentário:

  1. Oi Chico. Esse "falta mais alguém" que vc colocou na sua lista de filhos da sua tia Francisca, só faltou o cara que sua tia colocou o nome em homenagem a seu pai "Paulo", que combateu bravamente na Itália, por ocasião da 2ª Guerra.
    Aliás, como seu pai, sou combatente e Oficial Militar e também me chamo Esvael, você até foi no meu casamento em 2007...
    Já que vc é o "cara da família", sugiro informações de nossos tataravós.
    Att. Seu primo.
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